segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Diante de ti eu ponho a vida!
Cheguei em Coari no fim da tarde de sexta feira, cansado depois de 40 dias de viagem. Durante esse tempo, consegui várias metas de trabalho, foram tantas as atividades. Visto que esse blog não é sobre minha opção de vida e nem um serviço religioso e sim para uma leitura de Coari e seus arredores, assim diz seu objetivo. Pulemos essa parte.
Como não poderia de ser, depois de tanto tempo fora uma lista de compromissos me esperava e a maior parte deles urgente, para ontem; tomando de conta de quase todo meu fim de semana. foi só deixar as malas e ir para o trabalho.
No sábado à tarde, no meio da trabalheira chegou a notícia da queda de um avião que tinha saído de Coari carregado de passageiros. Tanto no fim da tarde, como a noite, notícias me foram chegando despedaçadas, parecia ser necessário ir montando um quebra cabeça ou um mosaico. Uns diziam umas coisas, outros outras. Eu sem tempo para chegar as informações, sem internet, fiquei a ver navio e o blog nem o navio!
Dentro desse quadro de informações desencontradas pedaços de nuvem, era difícil de ter ou fazer uma leitura de um quadro que se aproximasse da real situação. Enquanto os fatos reais não se mostravam com clareza, a população vivia um clima de surpresa, para uns era impossível ter acontecido algo dessa natureza. Um fato que vitimava tantas pessoas de um só golpe.
Depois de algum tempo, ainda no começo da noite de sábado, com a certeza de que o avião de fato tinha caído e da notícia dada através de um telefone de uma das sobreviventes; os fatos eram estes: quatro sobreviventes e 24 desaparecidos. Era noite e o clima de ansiedade começou a se misturar com a tristeza de tão grande perda; mesmo não tendo a certeza de que os outros tinham de fato morrido; a esperança, a última que morre, se fazia presente na maioria dos corações; esperança de que os outros passageiros e os pilotos, pudessem ser encontrados com vida.
Quando o domingo amanheceu com cara de chuvisco, de chuva, de choro, de chumbo. As lágrimas dos coariense pareciam querer cair do céu. Coari chorava seus filhos. A dor da perda saia do ventre, da terra, da carne, do coração de todos. O sentimento de perda tomou conta de todos. Todos pensavam, chorava e sofriam pensado nas famílias que perderam seus entes queridos.
Nenhuma palavra pode expressar a dor da perda de uma pessoa amada. Esse tipo de sofrimento deixa marcas que transcende todo o físico, penetra a alma, o mais profundo do nosso ser.
Toda a cidade se tornou uma terra que tinha um dia dado a luz a seus filhos e agora os pedia, útero vazio, desvirginado e alegre pelo choro da vida; agora coração despedaçado, arrebentado, rasgado pela dor da perda.
Diante do desafio do ser humano de ver o negativo do outro, houve um esforço de superar essa condição humana para se fazer um só coração. Um coração que ama. Sentimos a força do "Amor" que gerou solidariedade e sensibilidade pelo sofrimento do outro que se tornou seu.
A notícia da tragédia ganhou o mundo, tanto pelas mídias tradicionais, como pela internet. Assim como no começo da chegada das informações em Coari, também os Meios de Comunicação foram se atrapalhando em notificar em seus noticiários a tragédia acontecida com os coairenses. Os atropelos.
Também alguns comentários confundindo o momento, enveradaram querendo discurtir a vida e morte com conceitos, ideologias e partindo de seus pontos de vista. As rádios da terra do gás e do petróleo criaram um sentimentalismo sem igual. Alguns usaram Deus de forma de dois pesos e duas medidas, isto é, conforme seus interesses, e nisso o "Louro" tem toda razão
Se eu creio ou não na vida eterna, se eu sou dessa ou daquela igreja ou religão, nada disso conta. A morte é uma condição humana que nos iguala em humanidade. Morto é morto, não importa a classe social, a cor, o país. O que pode mudar é o significado.
Muita calma nessa hora. Essa é uma hora que pede bom senso!
Os coarienses mostraram que a dor une, um sentimento que ganhou forma de "materpaterfraternidade". Infelizmente foi preciso uma tragédia sem igual, a morte pra dizer que todos somos irmãos, pais e mães.
Sentimento que só a seleção brasileira consegue, aqui em Coari conseguiu também a morte.
A frase que ouvi e que ficou se repetindo, girando foi: "que Deus tenha misericórdia deles". E que assim seja!

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