quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Viajar é preciso


Foram nove dias de viagens. Sai de Coari na quarta e hoje estou de volta, e com as condições de saúde em baixa; gripado, garganta inflamada e os quartos quebrados, resultado de quatro horas de viagem numa lancha minúscula de Anamã para Manacapuru, ontem de manhã. Foi dose.

De Coari para Manaus de barco é sempre bom, descansável, tarde ne rede, não sei se o tempo, para não dizer a idade, mas estou sentindo dificuldade de dormir nessas viagens, portanto, uma noite sem dormir ou mal dormida me deixa numa ressaca de mil doses.

Pra minha sorte meu compromisso era somente à noite. Depois de um dia de descanso, do compromisso, nada melhor que por acaso descobrir o ensaio da Escola de Samba do Bairro Aparecida. Para quem tem acompanhado esse mundo do samba, sabe que a quadra da Escola foi fechada pelo barulho, atrapalhava os moradores do prédio da frente; gente endinheirada. Atualmente o ensaio acontece na pracinha do centro do bairro e todas as quintas tem samba para escolher o letra e música do enredo do próximo ano. Coisa melhor não poderia ser para encerrar um dia; afinal de contas, como diz o samba: "quem não gosta de samba, bom sujeiro não, ou é ruim da cabeça ou é doente do pé".

Depois de um dia de Manaus rumei para Manacapuru. A terra da ciranda num dia pré eleitoral, só não é mais barulhenta que no tempo da festival das danças. Pra fugir do barulho só longe do tempo. Pra minha sorte a casa que fiquei hospedado era na periferia, silenciosa como aprensentação de sinfonia.

Domingo após o almoço partir para Anamã destino final da viagem. Fui de carona num barco que o dono iara para terra de São Francisco pagar uma promessa ao santo. Segundo ele o barco foi preso pelo Ibama com uma carga ilegal de madeira que pertencia a um dos seus fregueses, alugador do barco. E que depois de quatro meses de idas e vinda entre Manacapuru e Manaus, de muitas pelengas, de muito dinheiro gasto com a "justiça", incluíndo aqui advogado e nenhum resultado, dado o caso por perdido; entregou o caso a São Francisco. Pois, como afirma Shakespeare que "há mais mistérios entre o céu e a terra de que toda vã filosofia", depois de uns dias recebeu um telefonema da Capitania dos Portos anunciando a liberação de seu barco, sem mais nada dizer. Assim como prenderam, soltaram. Só São Francisco!



A volta foi mais complicada. Na terça sai do paranã do Anamã, atravessei o Solimões para esperar os espressos que subiam em diração a Coari; passaram três e nenhum deles pararam. Na volta no meio do rio a gasolina acabou, ficamos parados num sol de torrar, até aparecer alguém que nos deu uma carona até a entrada para a cidade. Ficamos por lá até encontrarmos gasolina por R$ 3,50 o litro.

Só ontem deixei Anamã numa lancha minúscula indo para Manacapuru, como disse acima. De lá peguei um dos nossos barcos/recreio e cheguei hoje na terra do gás e do petróleo.

Quem quer passar bem não saia de casa, bem dito o ditado, de fato é pura verdade, principalmente aqui na Amazônia, onde os meios de transportes não são seguros, com pouca higiene e há roubos com muita freuência. E no quesito conforto, esqueça!

O calor acima da média que faz atualmente é outro diferencial que conta muito, aumenta o cansaço e dar uma indisposição, uma preguiça, uma vontade de não fazer nada.

Esses dias foi de convivência com o bom povo amazônida e sentir de perto esse estilo que está além da vida das pequenas cidades e ao mesmo tempo dentro de nós. Mundo ligado as águas, do peixe, das canoas. Mundo que a gente pensa quase não existir mais, quando vivemos ligados a estruturas de cidades que se estabelecem como ritmo de vida do nosso dia a dia.

Foi bom está nesse calor, do sol e do povo, sua vida e nosso jeito de ser. Apesar de tudo, valeu!

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