segunda-feira, 18 de abril de 2011

Rastros

Como uma tatuagem verde na imensidão da terra; ela ocupa uma grande parte no hemisfério sul do planeta azul. Constituídas por milhares de cadeias de vidas, formam com seus elos biológicos uma imensa corrente verde e líquida que se ligam. Assim é a floresta amazônica; a maior floresta tropical do globo.

Nesses últimos cinqüenta anos, no sistema desenvolvimentista do mundo capitalista, onde o lucro é a medida de todos os sonhos; ela começa a tombar diante da ambição sem medida do ser humano. Está como no lema da Campanha da Fraternidade desse ano, anunciado por Paulo centenas de anos atrás: “A criação geme em dores de parto”, (Rm 8,22).

Por todos os lados e de todas as formas ela grita. Um grito de dor, de agonia, de desespero, de socorro.

Grita pela terra devastada, rasgada, desvirginada, são árvores tombadas e sangue escorrendo, fogo transformam a paisagem em pasto para matar nossa fome de carne, fome nunca satisfeita. Os rios e todos os seus mananciais são invadidos e saqueados, toda sua vida levada embora para nossas festas de glutões. Cada vez são águas vazias, solitárias e cheias de mercúrio, vermelho como sangue; escorrendo como lágrimas negras e amarelas, tingindo o verde, já tão marcado de tantas dores.

Nem os botos e botas escapam da crueldade do nosso egoísmo, que só quer satisfação. Satisfeitos, jogamos, descartamos; e prontos para a próxima aventura da destruição.

Agora chegou a vez de explorarmos as entranhas da floresta, de tirar de seu ventre suas últimas veias de sangue. Com nossas máquinas avançamos arrancando os minérios, do ouro ao ferro, do gás ao petróleo. Seguimos desbravando, deixando um rastro vazio e morto.

Diante do grande achado de petróleo no Amazonas, equivalente ao pré-sal do nosso litoral, mais uma empresa, a HRT, exploradora do ouro negro começa com seu dinheiro, suas tecnologias, sua força de trabalho a fazer suas clareiras, perfurar o solo e em nome do desenvolvimento, da grana que destrói coisas belas, vai arrancar do ventre da terra seu líquido negro, satisfazendo nossa sede de bem estar, nunca satisfeita.

Assim como aconteceu com a construção da estrutura construída para explorar as reservas de gás e do petróleo no Urucu que deixou enormes débitos sociais e ambientais por toda parte e nunca pagos. Feridas abertas de famílias desestruturadas, centenas de filhos de botos, crianças e adolescentes prostituídas, desempregos e problemas sociais de várias ordens.

Na floresta, centenas de elos de vidas na flora e na fauna destruídos, quebrados, serão perdas sem reposição que só o tempo irá dizer o tamanho dos prejuízos em diversos tipos de vida, algumas antes nunca conhecidas.

A história começa a se repetir, agora por uma quantidade de petróleo muito maior, tão grande que nem o jurupari e nem a curupira resistiram. E nós até quando vamos resistir?

5 comentários:

Agamenon Silva disse...

Padre quero lhe cumprimentar pelo texto,muitas vezes vim ao seu blog comentar sobre a situação em que nossa amada terra se encontra,devido aos desmandos de um irresponsável, que teve a ajuda de muitas pessoa como vossa senhoria, e hoje jogou a confiança e a oportunidade que o povo deu na lama.Seu texto é uma reflexão profunda de um homem que se preocupa com sua terra,às vezes é muito duro no que diz,mas sempre deixou transparecer que ama sua terra.
Quero lhe agradecer que ultimamente tem postado meus comentários, mesmo porque sempre os fiz com afinco na crença profundo do que realmente acredito, descordando ou concordando com vossa senhoria,isso é bom,pois enriquece o debate,ninguém é obrigado a concordar com tudo,mesmo porque toda unanimidade é tida como burra,mas vossa senhoria sempre levou em conta a pachorra que se deve ter em vir a um blog e deixar sua contribuição(comentário).
Quando a Petrobras descobriu o petróleo em Coari,isso foi lá no ano de 1996,ou seja no século passado,só se falava na riqueza que isso ia trazer ao município,desenvolvimento era a palavra de ordem,e nós coarienses deslumbrados com essa possibilidade enchendo o peito de garbo,”nos tornaríamos a cidade mais rica do interior do Amazonas “,ledo engano,Coari tem muito dinheiro, mas o povo é pobre e muitos ainda miseráveis que vivem em estado de marasmo,isso é fato,nossa floresta tem nos dado tudo que realmente precisamos(madeira,peixe,frutos e etc.)a ganância do homem a tem deflorado,e agredido elas nesses 25 anos de exploração.Tudo isso teria valido a pena se realmente,a riqueza encontrada no nosso subsolo(Rio Urucu)tivesse realmente sido investido em uma educação melhor,uma saúde de primeiro mundo,um sistema de tratamento de água,saneamento básico condizente com nosso riqueza petrolífera,isso foi apenas um devaneio surreal que já não ressoa na mente de ninguém.
A ganância apelo poder corrompeu até as mais “blindadas” mentes de nossa cidade,isso vem ao longo desses 25 anos nos moldando e refletindo nas gerações futuras,hoje somos um povo que é o reflexo da nossa falta de ação passada,mas nesse ínterim há que s muitos foram os que se traíram,pois é a pior traição é aquela que nós mesmo comentemos com o nosso eu,discursos veementes,sofisticados e cheio de apelo social, foram forjados nos fornos dos que hoje ocupam o poder,mas uma coisa é certa há que se tomar partido de lado ou do outro,pois no meio disso tudo está nossos irmãozinhos coarienses,sem pão, hoje com circo,sem respeito,sem dignidade,sem destino,sem oportunidade,sem uma ação que vise o real melhoramento de nossa gente,penso que a mãe natureza é demasiadamente boa,mas quando não a respeitamos ela é implacável,portanto há que se preocupar com o que há de vir,pois riqueza é algo que pode durar muito,mas pode também durar pouco e 25 anos já é uma quantidade de anos bem representativa,minha preocupação sempre foi os meus irmãozinhos menos desfavorecidos,se temos o dinheiro dado pela a natureza devemos investir em nossas crianças,cuidar bem delas,educá-las com dignidade,e não brincar com a educação,como está acontecendo agora.
Bom padre penso que a seu texto nos convida a essa reflexão,pus meus pontos de vista aqui com relação a sua preocupação,se tomo uma posição é porque todos nós temos que ter um ponto de vista,e cada um de nós defendemos aquilo que para nós é tido como certo,quando vejo nossos irmãozinhos coarienses sofrendo como estão eu me exaspero,um abraço e bola para frente.

José Miguel disse...

Interessante a abordagem. Despertou em mim a curiosidade em consultar a Bíblia em Gênesis... "e a terra produziu relva, ervas que produzem semente, cada uma segundo sua espécie, e árvores que dão fruto com a semente, cada uma segundo sua es...pécie. E Deus viu que era bom”.
A versão que tenho da Bíblia possui alguns comentários. E para essa parte, diz: "o ponto mais alto da criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus. E a humanidade é chamada a dominar e a transformar o universo, participando da obra da criação”.
Acho prudente a preocupação com a exploração desenfreada dos nossos recursos e concordo que os impactos são gravíssimos. Mas acho que quanto à exploração do petróleo, nossa legislação contempla muito bem toda a atividade, inclusive com a ressalva da compensação.
Sou completamente a favor da exploração dos recursos da natureza em favor do desenvolvimento em benefício da humanidade. E, se entendi direito, a Bíblia já previa essa exploração. Mas parece que o homem não está conseguindo equilibrar exploração com desenvolvimento.
No tocante a exploração do gás e petróleo de Urucu, a atividade acontece a partir do cumprimento de legislação específica que prevê, inclusive, retornos financeiros (royalties) como compensação ao impacto ambiental. Mas, o que se vê? De um lado os exploradores, causadores do impacto ambiental, cumprem a lei quando pagam milhões em royalties às áreas impactadas. Por outro lado, o impacto ambiental não é compensado, pois os recursos dos royalties não são aplicados devidamente por aqueles que recebem os recursos.
O que quero dizer com isso é que a exploração dos recursos deve acontecer, sim. Hoje em Coari, amanhã em Tefé, depois em Carauari, Nova Olinda do Norte, e tomara em todas as cidades do Amazonas. Isso faz parte do modelo econômico em que nosso país está inserido.
Sabemos que o problema é outro, e não está na exploração.

Professor ALVES de Coari/AM disse...

O Ouvidor Municipal de Coari/AM ouvi e responde:

Para Melhorar: Basta Usar o Controle Social

Padre Zezinho bom dia, é bom tecer um comentário utilizando um texto inteligente e cheio de apelos para melhorar o mundo em vários aspectos como: educação, saúde, economia, meio ambiente, cultura etc.

No entanto, vejo que no texto “Sem luz no fim do túnel” e “Rastros” o Santo Padre dos Ribeirinhos do Médio Solimões/AM está desiludido com os homens de governo e o sistema capitalista. Nesse contexto penso diferente do nosso padre e vejo que a melhoria está na aplicação do que diz o Evangelho de Jesus “ Orai e Vigiai” e no sistema democrático de direito existem dois tipos de CONTROLE SOCIAL, que se for bem aplicado no SISTEMA CAPITALISTA, pode-se melhorar em muito o espaço físico como um todo (floresta, rios, animais, etc). Esse controle se dá em dois modos:

. CONTROLE NATURAL – É o controle exercido diretamente pelas comunidades e pelos movimentos classistas ( Sindicatos, ONGs, associações, cooperativas etc).

. CONTROLE INSTITUCIONAL – É o controle exercido pelas entidades fiscalizadoras de governo ( Ministério Público, Procon, Congresso Nacional, Assembléia Legislativa, Câmara de Vereadores, Conselhos etc).

A sociedade se saber usar os controles desburocratiza a máquina pública, que se for bem aplicado em qualquer administração, com certeza os serviços serão mais dinâmicos, de melhor qualidade e diminui a corrupção. Logo, o objetivo de uma Administração Pública bem controlada pode chegar ao Estado Gerencial.

Agora vem outra questão, a sociedade quer o controle social na Administração Publica?

Respondendo a própria pergunta, algumas querem, mas a maioria não, pois se a Administração Pública estiver sob um controle social rígido uma gama de parasitas perderão seus privilégios.

Por exemplo; Uma discussão que estamos debatendo no momento são os fichas sujas na Administração Pública, inclusive nos órgãos de fiscalização. O que vejo em alguns comentários são parasitas querendo a volta de outros parasitas para não perderem os privilégios.

Padre necessitamos sair da mordomia e cair em campo para levar essas informações ao público alvo, senão a sociedade ainda continuará trocando dentadura ou R$ 50,00 por uma escola bem equipada ou um hospital de qualidade, ou ainda, querendo a volta dos fichas sujas.

Um abraço.

Assinado Professor ALVES de Coari/AM, Ouvidor Municipal de Coari/AM, morador de Coari/AM, Rua Gonçalves Ledo, 560, Espírito Santo, CEP: 69 460 000.

Anônimo disse...

Padre, a Constituição Federal em seu Artigo 225 diz que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Ao mesmo tempo, sabemos que a natureza é a única fonte de recursos naturais que o homem dispõe para viver.
Por isso, para assegurar a efetividade desse direito, devemos promover a EDUCAÇÃO AMBIENTAL e a CONSCIENTIZAÇÃO PÚBLICA para a PRESERVAÇÃO do MEIO AMBIENTE.
ALÉM DISSO, A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TAMBÉM SE MOSTRA COMO UMA FERRAMENTA IMPORTANTE PARA DESPOLUIR A MENTE DE POLITICOS CORRUPTOS E SEUS PUXA-SACOS, QUE SÓ QUEREM SABER DE POLITICA PARTIDÁRIA E SE APROVEITAR DAS VERBAS PÚBLICAS, PROVINIENTE DE NOSSOS RECURSOS NATURAIS.
LEMBREM-SE, QUE O PETROLEO NÃO É UM RECURSO RENOVAVEL.

ricardo disse...

Belo texto o do aloprado Alves. ele devia estar pensando em sua própria condição de parasita de governos; pois é: todo mundo sabe que o Alves só ficou magoado com o governo anterior porque perdeu sua boquinha. Alves, Alves, Alves. você é tão burrinho. não vê que sua disposição heróica em defender este governo fracassado o está levando a revelar seu carater? digo, mal carater o que na verdade você sempre foi. qual a diferença entre você e as pessoas que critica? nenhuma. quais os erros que eles cometeram que você não cometeu? a unica diferença é que o erro deles dá ibope o seu. o seu só piada.