quinta-feira, 20 de março de 2008

Bairro da Liberdade

"Liberdade, liberdade, abre abre as asas sobre nós..."

Este verso de um samba de 1988, no aniversário de cem anos da libertação dos escravos no Brasil, pode dizer muita coisa para quem não acompanhou e nem acompanha a história do bairro da "Liberdade".
Essa foto foi feita em fevereiro de 2006, nesse dia fui até a entrada do "bairro" (já considerado pelos moradores) a convite da "Associação de Moradores", eles queriam que eu fizesse foto da área e fiz.
Cedo chegamos, a entrada estava bloqueada pela 'Guarda Municipal', depois foram chegando caminhões e outros carros todos cheios de policiais, toda a polícia coariense esteve lá: Polícia Militar, Polícia Civil, Detrac e a Guarda Municipal.
O povo, um punhado de gente, além dos membros da 'Associação de Moradores', eu, um advogado e alguns moradores de lá. Antes da chegada do delegado Capitão Norte (Capitão Morte), o povo soltou o verbo sem se intimidar com a "polícia", depois o homem chegou, grosso que só ele só. Desafiou Deus e o diabo, disse que mandava prender, dar porrada em quem entrasse, nunca vi algo igual. O povo, nós, calados.
Tinha lá o "Chefe" da 'Guarda Municipal' falando alto, gritando ao telefone celular e aos berros dizia: "Prefeito aqui tem um padre, é o Pe. Zezinho, padre não tem imunidade não, pega porrada do mesmo jeito". O homem tinha lá quase dois metros e mais de cem "homens" às suas ordens. Eu já estava preparado para pegar porrada, apanhar, sair de lá com as costelas quebradas pelas botas da polícia.
O clima ficou tenso, Capitão Norte aos berros ameaça o diabo nos confins do inferno. Triste fim esse delegado, matou um coariense da gema na zona rural, não ficou um dia preso, justiça... só para os outros. Depois apareceu numas imagens fazendo sexo com adeolescentes. Pegou o bêco, sumiu, escafedeuceu... justiça, só para os outros!
Muito me impressou uma matéria estampada no "jornal do Fuchico" (Em Tempo Coari) de sábado passado: "Loteamento Aguiar vai virar bairro". Antes era "invasão" e o povo que comprou um pedaço de terra e lá fez seu barraco só não foi arrancado à força porque o dono da terra, Sr. Aguiar disse que a terra era dele, tinha título definitivo do lugar, e não da prefeitura, pois era essa a vontade do dono do município.
O povo ficou lá porque precisava de um pedaço de terra para morar, para viver. Foram mais ou menos três anos de sofrimento, sem água encanada chegando nas casas, sem energia elétrica, sem asfalto e muito barro vermelho, pense um dia chuvoso o que acontece com aquela gente, o lugar não tem nenhum tipo de esgotos, saneamento básico - zero. Na verdade o que mais tem lá é malária e mais malária.
Mais agora já tem água, vai ter água, vai ter luz, vai ter asfalto... esse ano, é ano eleitoral. 'Parece' que esquecemos as coisas tão facilmente, não lembramos de quem de fato lutou, e lutou sem apoio de ninguém, principalmente daqueles que foram eleitos para lutar pelo povo.
Nesse dia da foto, apareceu na estrada um carro, essas picapes com vidros no fumê, tudo escuro, mais como sabemos de quem são os carros por aqui, esta era de um vereador. Fiquei no meio da estrada e disse: "ele vai ter que passar por cima de mim", não teve coragem e parou. Falei ao vereador que o povo sofredor precisava de sua presença naquele momento, eram seus eleitores. Nessa hora ele não precisava do povo, dos seus votos, foi embora no silêncio.
O povo continua lá comendo o pão que o diabo amassou, o mesmo diabo ximbado pelo Capitão Norte, só que agora o vereador vai precisar do voto daquele povo, e por ironia do destino, aquele povo vai votar nele!
"Povo Marcado", como diz Zé Ramalho numa de suas músicas, como se fossem gado. Povo pobre, humilhado, roubado, vai continuar assim para sempre... é isso que é bom para nossos políticos, assim eles vão continuar se elegendo para sempre pelo "voto necessidade".
E a Liberdade, liberdade abre as asas sobre nós?... Esqueça... pobre não é livre. Como ser livre se não tem o mínimo para viver?

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