domingo, 27 de fevereiro de 2011


Neste mundo de economias globalizadas e notável e permanente avanço nas comunicações, tem razão o jornalista Mário Rosa: nenhuma empresa, mesmo a mais criteriosa, e nenhuma pessoa, pública ou não, ainda que transbordando de seriedade, está livre de sofrer, algum dia, uma crise de imagem.

Exemplifica ele com a coreana cujo cãozinho de estimação fez cocô no metrô de Seul. Pediram-lhe insistentemente que limpasse os dejetos. Ela se recusou.

Imagens e diálogos foram captados pelo circuito interno de tv e, simultaneamente a amplíssima divulgação na Coréia, ganharam mundo. A senhora foi multada, passou vexame perante os vizinhos e até hoje comentamos sobre ela.

Foi o que aconteceu com o prefeito de Amazonino Mendes, em sua conversa mal sucedida com a humilde moradora da comunidade Santa Marta, zona norte de Manaus. O destempero foi para You Tube, Twitter, Facebook, blogs, agências on line e, no dia seguinte, saiu nos jornais locais e nacionais. A onda chegou ao exterior e, simplesmente, colocou o Pará em pé de guerra.

O governador Simão Jatene me telefonou contrariado, temeroso de que seus conterrâneos passassem a destratar amazonenses em viagem de negócios ou turismo ao Pará. Ponderado como é, limitou-se a soltar nota de protesto. O reflexo parlamentar foi maior, no Congresso, na Assembleia e nas Câmaras Municipais.

Em sã consciência, ninguém poderá dizer que Amazonino desejava a morte da brasileira que a pobreza obrigava a improvisar residência em área de risco. Claro que não desejava. Talvez a pressa em resolver a questão o tenha levado a perder a cabeça. Afinal, três mortes no local foram o déficit do temporal do dia anterior. Explica? Não sei. Justifica? De jeito nenhum.

Mas o fato é que o prefeito, mesmo não querendo dizer o que disse, acabou melindrando a naturalidade paraense. Foram dois erros na mesma ocasião e, obviamente, houve prejuízo de imagem para Amazonino. Moral da história: foi-se o tempo em que governante podia virar as costas a jornalista “inconveniente”. Morreu, igualmente, a era em que a autoridade telefonava para amigo dono de jornal, rádio ou tv e este ordenava o bloqueio da matéria que constrangeria o solicitante.

Nem voga mais a época em que as notícias aguardavam dia, noite e madrugada para sair. Agora é on line. Nada ou ninguém controla o fluxo de ideias e opiniões. A Tunísia é exemplo eloquente da revolução que se processou nas comunicações.

Através das mídias sociais, cada cidadão é um mini-Roberto Marinho. A censura é entulho caquético de um passado que legava privilégios para poucos e silêncio para a maioria.

O tempo não para, bem cantava Cazuza, o maior poeta de sua geração.

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