quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Esperanças


Acompanhando o sucesso de saudosas fotografias no Facebook, estou chegando a conclusão que nós coarienses vivemos na fronteira de um tempo que se foi e não volta mais e de um novo tempo que está se construindo com o advento da exploração da jazida de gás e de petróleo pela Petrobras em nossas terras; também esse não tem volta.

Esta fronteira não é geográfica, é existencial, está dentro de nós. E diante do desapontamento do presente, futuro apregoado no passado que seria de mil maravilhas; caminhamos naufragados num conflito entre expectativa e realidade, onde é comum o sentimento que nos faz pensar que o passado é melhor que o presente.

A lembrança do passado é boa, porém, não pode nos isentar da responsabilidade e dos sonhos, de construirmos um presente que nos dará a certeza de boas lembranças do passado, presente que vivemos agora, no futuro.

E não são só as lembranças do passado que ofuscam a construção de um presente. O presente é marcado pelo sistema capitalista/consumista que está dando as cartas e vivemos presos em sobreviver. A vontade de consumir o que pudermos num espaço de tempo menor que seja, está nos consumindo. Vivemos num reinado da pressa e do muito e esquecemos que o apressado sai mal feito e o muito pensado sozinho, é muito para poucos.

Com certeza o presente nos mete medo e o pior medo é o de perder o pouco que se tem, mesmo que seja em detrimento do muito que poderíamos ter. Ou pior ainda, nunca ter o pouco que alguns têm. Até os que ganham 268 reais por mês, são a eles apegados pelo medo de até esses míseros reais serem deles tirados.

O novo tempo em Coari não é formado pelo grupo que governa o município, eles também são parte de uma realidade nova, diversificada e multi-étnica dos diversos grupos que nestes últimos anos aportaram no nosso antigo porto que era de lenha e até ele, hoje, de ferro e muito mais frágil do que o antigo, pois a água levou o que nunca tinha sido levado. E isto já é um sinal do novo, que ele é muito mais frágil e dinâmico do que pensamos.

Desde o começo das entradas milionárias no cofre do Palácio 02 de Agosto; as pessoas que assumiram cargos de acesso a esses milhões, não tiveram nenhuma dificuldade de pensar em encher suas contas bancárias e pensando num gordo futuro, agem com egoísmo e ambição, e assim vão destruindo o presente, deixando um povo inteiro sem esperanças. E um povo sem Esperanças é um povo morto; pois a esperança é a última que morre e a dos coarienses o egoísmo e a ambição a mataram!

No mundo precisamos ter esperança para ter coragem, na terra do gás e do petróleo precisa ter coragem para ter esperanças. E se não mudarmos, podemos mudar os nossos governantes e tudo vai continuar igual.

E estamos sempre só colocando a culpa nas pessoas que nos governam, dizendo que somos sempre vítimas deles, é muito fácil, porém, é uma mentira, uma forma covarde de não assumir a responsabilidade pelo nosso próprio presente e futuro. De construirmos, vivermos e sermos os nossos próprios sonhos.

Faço minhas as palavras do escritor moçambicano Mia Couto: “nosso maior inimigo somos nós mesmos. O adversário de nosso progresso está dentro de cada um de nós, mora na nossa atitude, vive em nosso pensamento e a tentação de culpar os outros em nada nos ajuda. Só avançaremos se formos capazes de olhar para dentro e de encontrar em nós as causas do nosso próprio falimento – o egoísmo e a ambição. Uma grande potência não começa nos recursos naturais. Começa nas pessoas e na capacidade de essas pessoas serem produtoras da felicidade”.

Talvez, foi essa “capacidade” que perdemos!

3 comentários:

Anônimo disse...

Padre, sempre gostei muito de seus textos, mais esse foi o mais importante de todos, pois vai a raiz dos problemas de Coari,pois também creio que o problema não é o governante em sí o culpado pelas mazelas sociais, e sim aqueles que vêem como meros expectadores, seus direitos sendo violados, sem reação, como bois sendo levados ao matadouro. Portanto, não será prefeito X ou Y que resolverá o problema de Coari e sim uma mudança de atitude coletiva, sempre foi assim em toda a historia da humanidade, as mudanças sempre ocorre apartir da base da piramide social, mesmo que isso pareça uma utopia, creio que um dia a população coariense alcançara a maioridade e autonomia existencial.boa sorte a todos!!! ass:josiel

Anônimo disse...

Bem seu padre: o seu texto realmente nos faz refletir sobre a atual realidade em que nós coarienses estamos vivendo ou vivenciando. Enquanto o povo que sofre (eu estou entre o povo) não criar coragem e acreditar que somos capazes de fazermos grandes mudanças, nunca vamos ser realmente livres desses usurpadores do dinheiro público, que é nosso. Segundo um trecho de um determinado canto da igreja católica que diz que "enquanto o menor que padece não acreditar no menor", nunca seremos capazes de viver um novo tempo. O nosso grande problema é que só acreditamos nos maiores ou seja, nos poderosos...

Professor ALVES de Coari/AM disse...

Gostei do texto e dos comentários, mas não se faz revolução como anônimo.

Um abraço.