A morte e a morte do carnaval coariense

Por todo o Brasil, os mais diversos tipos de foliões se preparam para "brincar o carnaval". Afinal de contas, por todo canto do globo temo a fama de sermos o país do carnaval. É um tempo tão parte de nós como o futebol, nossas crenças, nossas comidas; é uma de nossas riquezas imaterias e que move nesse período milhões de reais, principalmente através do turismo.

O mais interessante é que aqui, no lado sul do mundo, nosso carnaval não é igual, em cada uma das cinco regiões ele tem o seu modo, a sua cara e é justamente essa diversidade que faz dele um carnaval único, diferente dos outros países. Temos o carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus; os afros no Nordeste, principalmente Salvador e Recife, e as bandas e blocos que se espalham e crescem por todo o Brasil.

No Amazonas, falta um empurrão do Ministério do Turismo para Manaus se tornar a capital do carnaval no norte do Brasil. Pouco divulgado no Brasil e no mundo o carnaval de nossa capital, de modo especial, as Escolas de Samba, que nada deixam a desejar para as do Rio e São Paulo; os blocos recém nascidos e já arrastam milhares de pessoas, sem contar o tradicional carnaval das "Bandas" e suas marcinhas (sempre críticas), tendo como destaque a "BICA".

No interior do Amazonas dois municípios estavam construindo seu carnaval com seu modo e seu rosto, Anori e Coari. Em Anori as Escolas de Samba Brasileirinha e da Moca agitam a cidade nesse período. Misturando o que viam na TV das escolas cariocas com a criatividade do povo e suas realidades; os carnavalescos ganhavam as esburacadas ruas da cidade com seus carros alegóricos, que nos balanço dos desníveis já iam entrando no ritmo do samba. Infelizmente por depositarem todas as fichas nos seus administradores como únicos patrocinadores, estão ano a ano definhando.

Já em Coari nossa particularidade era um carnaval feito dos blocos. Ele foi nascendo devagar, se construindo fortemente e cada vez mais ele nos surpreendia com sua beleza e criatividade. Mesmo com míseros recursos, a criatividade e o esforço dos coarienses foi de fundamental importância para um carnaval cheio de encanto e alegria. Era impossível assistir a descida dos blocos na XVI sem se envolver fisicamente e emocionalmente.

É preciso lembra que o carnaval é feito de diversas artes: a música com seu ritmo e letra, as artes plásticas, a força do corpo e da dança. Por isso que o nosso carnaval é forte, ele é místico, mexe conosco inteiramente. Acontece que a arte imita a vida e o contrário também acontece, a vida imita a arte. Foi por essa condição carnavalesca de ser arte que o carnaval coariense foi castrado, ele  estava relevando, expondo as vísceras de nossa realidade de um município milionário, porém, tendo um povo empobrecido.

Trazendo grandes cantores e bandas de fora para o carnaval coariense, tivemos duas perdas; a perda econômica, o dinheiro do município, paga para gente de fora e segundo perdemos a condição de fazer com nossas mãos nosso carnaval. Enfim, perdemos o nosso carnaval. O medo de quem tem nosso dinheiro nas mãos de enfrentar a realidade dura e crua criada por eles mesmos, matou nosso carnaval.

Depois disso, nosso carnaval nunca mais foi o que era. Mesmo tendo muito dinheiro para isso, desandamos. Esse ano segundo o Jornal Diário na sua versão impressa, temos 204 mil reais para o nosso carnaval. Com toda riqueza que temos, se a força da grana que mata e destrói coisas belas não tivesse destruído nosso carnaval, com certeza, hoje tínhamos o melhor carnaval do interior do Amazonas.

Sei que são muitos os que estão tentando construir novos caminhos e isso é bom e é o que conta. Quem sabe um dia chegaremos lá!