É tempo de verão amazônico. Sol de lascar. É tempo de bicho de casco. "Sarapatél de tartaruga ou de tracajá na culinária amazônica não tem concorrente. Um manjar dos deuses".
Os cronistas e os viajantes da Amazônia nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e até metade do século XX são unânimes na constatação da abundância de bichos de casco em toda a regiâo amazônica. Tanto Frei Gaspar de Carvajal, quanto Cristovão de Acuña, primeiros testemunhas/cronistas se impressionaram com a quantidade encontrada e apresentada aos viajantes pelos indígenas da terra.
É comum encontrar nos escritos, relatos da presença dos quelônios como base alimentar dos indígenas e de como eles lidavam com os animais, mantendo em currais nas margens dá'gua; método/hábito que se manteve na Amazônia até quando durou a abundância desses animais.
O primeiro grande tiro nas nossas tartarugas, foi a da utilização de sua banha transformada em manteiga e óleo para as lamparinas, lampiões domésticos e públicos que iluminaram as cidades de Manaus, Rio de Janeiro e Londres no auge do período da borracha.
Lembro com saudades das histórias contadas por minha vó e minha mãe no meu tempo de criança. Elas sempre relatavam dos currais de tartarugas em seus terreiros e elas serviam de animais de montaria; onde as crianças se divertiam em seus cascos, brincando de cavalinho!
A lembrança também vaguei no tempo de criança/adolescente em Coari quando uma iaçá custava o equivalente entre cinquenta centavos a um real. Hoje pela escassez, seguindo a lei de mercado de quanto menor a quantidade, maior o valor, não é difícil de encontrar com os preços acima de quanrenta reais.
O que acontece para os preços estarem tão altos?
Sou totalmente a favor que façamos uso da floresa amazônica, tanto da flora, como da fauna, porém de uma forma racional; onde, nós amazônidas possamos desfrutar para uma boa qualidade de vida. Não adianta muito estarmos na maior floresta do mundo, com tanta vida e estarmos passando fome ou não gozando dos seus melhores frutos.
Por outro lado não adianta muito querermos comer tudo de uma vez até acabar. Matar ou morrer pela boca, não parece uma grande saída. Nesses últimos cinquenta anos a matança foi grande. Sua carne é maravilhosa e os pratos confecionados com elas, uma delícia. Porém, se constinuarmos a lidarmos com ela dessa forma, não durarão muito.
Não acredito que leis ou fiscalizações vão adiantar numa região continental como é a nossa. Até porque a carne dos nossos quelônios faz parte da nossa cultura alimentar (mais uma cultura que depreda, não trará nenhuma saída) e é fonte de economia para muita gente. Uma fonte de renda.
A saída é a mudança de hábitos, não alimentares, é claro, mais o modo com que estamos lidando com nossa Amazônia. Ou cuidamos ou muitaos animais e plantas estão fadados a desaparecerem. Como muita coisa já foi, já não existem, segundos os estudiosos da região.
Ano passado participei de uma das solturas de tracajás e tartarugas recém nascidos. Foi uma emoção única. Na ocasião dizia: "Ontem estive numa "soltura" de quelônios na Aldeia da Praia do Geral II. Foi um momento de grande emoção". Leia mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário