
O III Festival Cultural de Coari segue seu caminho, mostrando a "arte" e o "encanto" dos coarienses. Ele é uma válvula de escape, um furo do alumínio, aquela goteira bem em cima da cama, que incomoda, porém, quando não chove está tudo bem. Ele é um sinal do que se foi e do poderia ser um festival onde a liberdade de ler a realidade de Coari pudesse ser expressa pela arte; pois a arte imita a vida.
No III Festival Cultural de Coari, a arte não pode imitar a vida, qualquer artista ou grupo que queira expressar a atual realidade da terra do gás e do petróleo está fadado a não entrar na "arena" e essa seria a pena menor, as outras seriam catastróficas; no mínimo o idealista e os participantes perderiam seus empregos, e por aí vai.
Dizer que o festival está mostrando a cultura amazônica ou até mesmo coariense, é conversa para boi dormir, uma vez que o que menos queremos é assumir nossa cultura como nossa. Apresentamos nesses festivais o índio e o caboclo como meras personagens exóticas, que não estão no nosso mundo e nem queremos ser. O preconceito é de matar, eu índio ou caboclo?
Esse preconceito se acentua mais ainda com a chegada de muita gente de fora para assumir os cargos de primeiro e segundo escalão no município, o que eles expressam é que o que é de Coari, do interior, coisas de caboclos, coisas de índio, é coisa de gente do mato, gente ignorante, sem cultura. Isto é, nos matam, nos colocam no lixo.
O que chique é o de fora!
Numa visão meramenta consumista e capitalista "os festivais folclóricos ganham força na Amazônia, num momento de valorização das culturas populares. Os costumes locais são colocadas em pauta de uma maneira que o público possa entender o modo de viver do povo caboclo". Essa afirmação encontrei na revista "Conexão oeste", a revista que destaca o Oeste do Pará e a Amazônia de junho.
De fato os festivais folclóricos ganham força motivados pelas empresas que estão faturando alto com esse tipo de festa; principalmente as empresas de bebidas - cervejas e refrigerantes. Não há nenhum interesse na cultura local, na cultura cabocla, o interesse é o lucro e a revista também entra nessa jogada, uma vez que também quer faturar.
O que o III Festival Cultural de Coari poderia de fato mostrar é a nossa cultura, mais a que vivemos atualmente, a cultura das malas e dos malas, não uma lembrança que ninguém mais quer para a sua vida. Essa já passou. Atualmente com a nossa aparência de índios, estamos dando maior show no "transporte de valores".
Somos os índios/caboclos mais ricos do Brasil e mostramos nossas riquezas nas malas cheias de dinheiro, em vôos, em casas. Temos tanto dinheiro que compramos de meninas cheirando a leite até as mais altas autoridades do Brasil.
Tem índios/caboclos mais pávulos que os coarienses?
Nenhum comentário:
Postar um comentário