domingo, 14 de março de 2010

No Rastro da Cobra Grande

A primeira vez que estive em Tefé foi em 1978, era dezembro, véspera de completar 11 anos, faz tempo, muito tempo. O motivo da minha ida a cidade foi a formatura do magistério de meu irmão mais velho; ele se mudara de Coari para trabalhar na agência do Banco do Brasil.

Guardo dessa viagem lembranças espaças; entre elas a festa de formatura e o restaurante com sua novidade gastronômica, bolinhos de pirarucu, na época uma novidade que impressionava. Hoje fico pensando nessa delícia que vai muito bem com uma cerveja bem gelada.

Depois dessa viagem, outras vieram, infelizmente foram ficando numa memória distante, são pouquíssimas as lembranças deixadas por elas. Talvez porque poucas coisas de fato marcaram.

Da primeira de 1978 até a última dessa minha primeira reencarnação em Tefé; foram mais ou menos umas dez vezes que por lá vivi em perambulâncias nas férias de janeiro e julho. Elas duraram até a permanência do meu irmão em 1983.

No mês de julho o que mais gostava era do festival folclórico que acontecia na Praça do Remanso do Boto, onde armavam um tablado de madeira para as “danças” se apresentarem. Por ser um local perto de casa, tinha liberação para ir assistir. Também era cômoda para meu irmão recém casado, vida de lua de mel, melhor não alguém por perto!

Me impressionava entre todas as “danças”, a dança da Cobra Grande; era um de fato grande, feita de papel, pano e com uma armação de varas. Nela estava presente toda a bicharada da floresta, incluindo aqui os de nossa mitologia: o Mapinguarí e a Curupira. Depois de todos terem entrado no “palco” – tablado, ela entrava com toda sua beleza plástica e com sua maneira de dançar, a todos encantava e metia medo, principalmente nas crianças. Depois comparei ao dragão das festas do dragão de alguns países orientais.

Do meio para o fim, ela começa a tudo engolir, os animais, as coisas e o que ia aparecendo pela frente, entrava pela boca e discretamente eles conseguiam ir dando saída por um buraco feito numa parte do tablado. Por último ela engolia o bicho homem, que tentava escapar de todas as formas que podia e o suspense era criado numa perseguição que terminava, como já sabemos, era um desfecho surreal.

Como criança não entendia bem seu verdadeiro sentido. Hoje entendo a metáfora de um animal da nossa floresta, transformado em mito a tudo engolir. Ou ela engole a realidade material vorax ou é engolhida por ela!

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