terça-feira, 6 de março de 2012

Povo Nômade
 
 
Povo Nômade Nós continuamos nômades.É comum em qualquer época do ano, subindo ou descendo os rios, nossos barcos andarem sempre cheio. Continuamos refazendo os caminhos líquidos, estradas de águas que fizeram os antigos habitantes da Amazônia. E a maioria de nossas viagens acontecenão só por necessidades de trabalho ou saúde; viajamos para visitar os parentes.

As viagens de nossos antepassados poderiam durar meses e até mais de ano. Viajando a pé ou de canoas; viviam intensamente experiências que os caminhos no mato ou n’água poderiam oferecer; um encontro com um bando de animais (queixadas, antas, pacas, capivaras, macacos... ) ou um cardume de peixes ou ainda uma área com árvores de alguma fruta da época que por ali estavam passando. Quando esses encontros aconteciam, uma festa de agradecimento. O nascimento de uma criança, a passagem de idades, casamentos ou mortes, qualquer um desses acontecimentos exigia uma parada, uma celebração/comemoração. E quando se chegava a casa dos parentes, a festa durava dias e boa parte do tempo era usado em contar o que aconteceu na viagem.

E a nossa cultura que resiste silenciosamente aos mais diversos ataques; faz resistência ao modo de viajar, onde o meio de transporte é só uma ferramenta da viagem, um transporte rápido, pois o que importa é chegar. Para nós caboclos amazônicos a viagem de ida e de volta é tão importante quanto o lugar aonde vamos. Por isso o barco recreio insiste em ser o nosso principal meio de transporte. Mesmo que em alguns deles os banheiros e a alimentação não são itens tão importantes.

Enquanto nos aviões e nos rápidos expressos, o que conta é o tempo, pois, no jogo da economia de consumo, o tempo também se consome, ele é ouro, é dinheiro; logo, quem “perde” tempo, perde dinheiro; se elimina a possibilidade de viver a viagem. Cada um sentado em seu lugar querendo saber o tempo que gastará a viagem e qual a hora da chegada. Criando assim um clima interior de ansiedade, gerando cansaço, pulsações aceleradas, mal estar no corpo, não se relaxa, se estressa.

Um amigo meu, me contava que uma vez se encontrou doente e lhe foi oferecida uma passagem de avião para ir se cuidar Manaus; ele não aceitou e disse a quem lhe tinha feito a oferta que queria viajar de barco, pois assim, sabia quando passava pela ilha do Ariá, Itapéua, Jussara, Botija, Boca do Mamiá, Parná do Padre, Ajurá, Costa do Jussara, Vila do Lauro Sodré, Camarazinho, Camará, Tapiira, Morituba... Codajás... Para nosso povo, viajar é contemplar. E contemplar em todas as culturas é uma atividade terapêutica. Logo a viagem já faz parte da cura.

Uma viagem em barco recreio se faz o caminho contrário do “encurtar distâncias”, onde a velocidade diminui o tempo da viagem. O destino e os caminhos são os mesmos e muitas vezes o objetivo é o mesmo, o de visitar parentes. Porém, o espaço do barco nos coloca num ambiente onde se vive uma experiência de convivência. Um espaço onde partilhamos a vidas e as histórias se encontram e vamos fazendo parte um do mundo do outro.

Numa viagem de barco recreio pequenas comunidades vão se fazendo naturalmente. Encontramos pessoas, fazemos amizades, cruzamos olhares, nos encantamos, amamos, deixamos para trás antigos amores, começamos outros, relações que terminam quando descemos do barco ou continuam por algum tempo ou a vida toda. E quando chegamos à casa do parente, temos muito que contar, pois, saber viver a viagem é tão importante quanto saber fazer a visita!


5 comentários:

Anônimo disse...

Padre Amigo!

perseguição parte II

o BLOG DA FLORESTA TA FORA DO AR, QUANDO SE TRATA DO PROVEDOR DO AMAZOM CYBER PORQUE SERÁ?

CADÊ A LIBERDADE DE EXPRESSÃO, A LIBERDADE DA IMPRENSA.

FALTA DE CARATÉR.

DE ALGUMAS PESSOAS.
TAMU DE OLHO...

Anônimo disse...

"Povo Nômade" eu diria "povo em transito", já que estamos sempre indo e vindo. Concordo com o senhor que as viagens feitas de barcos convencionais ou barcos recreios sáo talvez terapeuticos para alguns, já para outros como eu que sou micro-empresário, atualmente é uma perca de tempo! Prefiro os ajatos ou expresso. Isso é apenas uma opinião ou um comentário sem nenhuma prepotencia, um grande abraço!!!

Anônimo disse...

Padre um questão.

Há realmente motivos para festa dia 08 de março para as munlheres coariense?
No que se refere as ações do governo municipal com relação a elas?

As mulheres desempregadas e desamparadas têm o que comemorar?


As crianças Mulheres coariense têm o que comemorar?
Numa cidade onde a criança não têm espaço e nem parques e nem diversão?

Nem merenda escolar?

Anônimo disse...

Padre, a população de Coari está aguardando ansiosa a vindo do Promotor de Justiça, Fábio Monteiro.

Anônimo disse...

Será que ele (Fábio Monteiro) tem coragem de vir a Coari? Principalmente para investigar as falcatruas cometidas pela familia Mitouso?