Povo Nômade
Povo Nômade Nós continuamos nômades.É comum em qualquer época do ano, subindo ou descendo os rios, nossos barcos andarem sempre cheio. Continuamos refazendo os caminhos líquidos, estradas de águas que fizeram os antigos habitantes da Amazônia. E a maioria de nossas viagens acontecenão só por necessidades de trabalho ou saúde; viajamos para visitar os parentes.
As viagens de nossos
antepassados poderiam durar meses e até mais de ano. Viajando a pé ou de
canoas; viviam intensamente experiências que os caminhos no mato ou n’água
poderiam oferecer; um encontro com um bando de animais (queixadas, antas,
pacas, capivaras, macacos... ) ou um cardume de peixes ou ainda uma área com
árvores de alguma fruta da época que por ali estavam passando. Quando esses encontros
aconteciam, uma festa de agradecimento. O nascimento de uma criança, a passagem
de idades, casamentos ou mortes, qualquer um desses acontecimentos exigia uma
parada, uma celebração/comemoração. E quando se chegava a casa dos parentes, a
festa durava dias e boa parte do tempo era usado em contar o que aconteceu na
viagem.
E a nossa cultura que
resiste silenciosamente aos mais diversos ataques; faz resistência ao modo de
viajar, onde o meio de transporte é só uma ferramenta da viagem, um transporte
rápido, pois o que importa é chegar. Para nós caboclos amazônicos a viagem de
ida e de volta é tão importante quanto o lugar aonde vamos. Por isso o barco
recreio insiste em ser o nosso principal meio de transporte. Mesmo que em
alguns deles os banheiros e a alimentação não são itens tão importantes.
Enquanto nos aviões e
nos rápidos expressos, o que conta é o tempo, pois, no jogo da economia de
consumo, o tempo também se consome, ele é ouro, é dinheiro; logo, quem “perde”
tempo, perde dinheiro; se elimina a possibilidade de viver a viagem. Cada um
sentado em seu lugar querendo saber o tempo que gastará a viagem e qual a hora
da chegada. Criando assim um clima interior de ansiedade, gerando cansaço,
pulsações aceleradas, mal estar no corpo, não se relaxa, se estressa.
Um amigo meu, me
contava que uma vez se encontrou doente e lhe foi oferecida uma passagem de
avião para ir se cuidar Manaus; ele não aceitou e disse a quem lhe tinha feito
a oferta que queria viajar de barco, pois assim, sabia quando passava pela ilha
do Ariá, Itapéua, Jussara, Botija, Boca do Mamiá, Parná do Padre, Ajurá, Costa
do Jussara, Vila do Lauro Sodré, Camarazinho, Camará, Tapiira, Morituba...
Codajás... Para nosso povo, viajar é contemplar. E contemplar em todas as
culturas é uma atividade terapêutica. Logo a viagem já faz parte da cura.
Uma viagem em barco
recreio se faz o caminho contrário do “encurtar distâncias”, onde a velocidade
diminui o tempo da viagem. O destino e os caminhos são os mesmos e muitas vezes
o objetivo é o mesmo, o de visitar parentes. Porém, o espaço do barco nos
coloca num ambiente onde se vive uma experiência de convivência. Um espaço onde
partilhamos a vidas e as histórias se encontram e vamos fazendo parte um do
mundo do outro.
Numa viagem de barco
recreio pequenas comunidades vão se fazendo naturalmente. Encontramos pessoas,
fazemos amizades, cruzamos olhares, nos encantamos, amamos, deixamos para trás
antigos amores, começamos outros, relações que terminam quando descemos do
barco ou continuam por algum tempo ou a vida toda. E quando chegamos à casa do
parente, temos muito que contar, pois, saber viver a viagem é tão importante
quanto saber fazer a visita!
5 comentários:
Padre Amigo!
perseguição parte II
o BLOG DA FLORESTA TA FORA DO AR, QUANDO SE TRATA DO PROVEDOR DO AMAZOM CYBER PORQUE SERÁ?
CADÊ A LIBERDADE DE EXPRESSÃO, A LIBERDADE DA IMPRENSA.
FALTA DE CARATÉR.
DE ALGUMAS PESSOAS.
TAMU DE OLHO...
"Povo Nômade" eu diria "povo em transito", já que estamos sempre indo e vindo. Concordo com o senhor que as viagens feitas de barcos convencionais ou barcos recreios sáo talvez terapeuticos para alguns, já para outros como eu que sou micro-empresário, atualmente é uma perca de tempo! Prefiro os ajatos ou expresso. Isso é apenas uma opinião ou um comentário sem nenhuma prepotencia, um grande abraço!!!
Padre um questão.
Há realmente motivos para festa dia 08 de março para as munlheres coariense?
No que se refere as ações do governo municipal com relação a elas?
As mulheres desempregadas e desamparadas têm o que comemorar?
As crianças Mulheres coariense têm o que comemorar?
Numa cidade onde a criança não têm espaço e nem parques e nem diversão?
Nem merenda escolar?
Padre, a população de Coari está aguardando ansiosa a vindo do Promotor de Justiça, Fábio Monteiro.
Será que ele (Fábio Monteiro) tem coragem de vir a Coari? Principalmente para investigar as falcatruas cometidas pela familia Mitouso?
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