quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Quando a morte nos deixa um recado
Domingo de tarde, Coari recebeu, velou e chorou seus filhos. Uma multidão jamais vista invadiu o aeroporto para receber os corpos, mesmo com todo atraso devido o mal tempo em Manaus ninguém arredou o pé do lugar, ao contrário mais pés chegavam e iam se arrumando cada um no seu canto possível de onde se poderia vê e ter um contato melhor com os que chegariam.
Chegado os corpos, a procissão se formou, mais que carros, motos, era um só sentimento que caminhava no asfalto quente, no cortejo caloroso, a temperatura em alta, mais que a do asfalto, a do clima, o calor da vida.
No velório os ginásios ficaram pequenos, era gente, vida borbulhando por todo lado. Todos querendo um contato visual ou o tocar nas urnas onde estavam os corpos. Eles já tinham atravessado esse lado material. Talvez não sabiam que a tragéida é uma das condições humana que atrai, que gera curiosidade.
Mais os corpos falavam por si só, iam espalhando suas palavras, frases soltas no ar, como morreram, umas ficavam dependuradas e insistiam a nos falar sobre o sentido da vida, de quanto ela vale conforme o sentido que atribuimos a ela. Era tarde, muito tarde, a noite da morte já tinha chegado para eles.
Agora, mesmo diante de como viveram a vida, a sensação de todos, comovidos, era um desejo de piedade... como será? A noite foi curta para um velório tão concorrido, tantos sentimentos ficaram nos locais antes do dia amanhecer; nem o fim da madrugada que trouxe o sol, dia claro, sol ardente, trouxe-nos novos modos de vê a vida.
Os horários dos sepultamentos foram diferentes, foi preciso o dia se consumar para que todos voltassem ao que são pó. Aliás com esse chuvoeiro o Estádio, templo do futebol coariense, agora templo de corpos, certamente alagará os corpos, aqui tornse-se água em vez de terra, pó.
O sentimento de perda estava estampado nos presentes na hora dos corpos serem colocados, iam ficando feito tatuagem, as lágrimas escorrendo, pareciam ganhar o caminho inverso, não na pele, nem no rosto, mais no coração e se sentia pela dor que seguia o compasse da batida, feito tambor querendo ressoando, numa batida ritmada, como se houvesse um maestro a reger um coro de sentimento e dor.
Agora, eles já cumpriram o caminho que tinham que seguir. Fica para nós a dor ou pedaços de dela. A questão agora é pensar o que esse acidente trágico quis dizer para nós. Sem querer definir nada, deixar para quem por aqui passar pensar no acidente como algo dito, falado com a morte!

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