quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um povo nômade

Festa de santo em cidades do interior sem a presença dos "marreteiros", perde muito a sua graça. Esse ano aqui na terra dos gás e do petróleo pela passagem da Festa da Padroeira, Sant'Ana; grande número desses vendedores se estabeleceram ao redor da praça da catedral e adjacências. Por alguns dias mudaram a paisagem da área.

Desde que me lembro, e lá se vão mais de três décadas, essa gente, verdadeiros nômades, participa dessa festa, nesse tempo, embarcados com seus fardos, marcham, melhor dizendo, navegam para terra de Ana e aqui chegados, armam suas barracas.

Suas barracas não são só espaços de venda, mais também casas, espaço de vivência e convivência. Deixando para trás lar, família e amigos é nos "arraias" que passam boa parte da vida e se fazem ou se desfazem na/da vida.

Depois de armada a barraca, espalham por elas em mesas ou pelas paredes e portas suas "mercadorias"; em sua grande maioria roupas. Durante o período em que passam numa cidade concorrem com o comércio local. Na sua grande maioria os preços são mais competitivos, nem sempre os produtos são de melhor qualidade que a praça local. Apesar de que nesses últimos tempos, trazem um material cada vez melhor.

Muitos vão ficam por alguma cidade que armou sua barraca, geralmente visgados pelo coração. Outros veteranos vão encantando e se encantando; na sua fase de botos deixam filhos espalhados pelas cidades nesse mundão de Amazônia.

Na estrutura de vida dessa gente, ser marreteiro, para quase todos é um estilo de vida que vai além de ser simplesmente um vendedor ambulante de barracas. É um gosto, um sabor que se faz como uma segunda pele, uma veste em forma de tatuagem da vida dessa gente nômade que cruza rios e cidades para fazer a vida e da vida uma presença na vida do povo do interior do Amazonas que nem sempre em suas lojas encontram as novidades que esse povo trás.

Perambulando rio acima, rio abaixo, de festa de santo em festa de santo, vão fazendo parte como esse modo de ser, um ser amazônico, uma tradição atravessando o tempo, fazendo história e se fazendo povo no meio do povo.

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