sábado, 18 de fevereiro de 2012

Crônicas de um carnaval coariense

Sábado - Enrique

Quinze para as sete da manhã, Enrique e seu pai chegam no terminam fluvial da Manaus Moderna. Muita gente na "balsa do expresso". Eles despacham a bagagem e se despedem; um abraço apertado, choroso e saudoso de ambos, pai e filho se separam pela primeira vez; sempre viajaram juntos.

Sozinho olha com um olhar sonolento a multidão espalhada, uns alegres, outros demonstrando tristezas e saudades na despedida. O sol se refletia na água azul quase negra e com muito lixo. E foi assim que ouviu uma voz meio metálica anunciando/"convidando" a todos para entrarem na lancha e se acomodarem.

O motor roncou na popa, o barulho mudou de repende e começaram a viajar pelo centro verde da Amazônia, o destino, Coari. Reclinou a cabeça no encosto de sua poltrona e fitou o nada, distante, nas margens vez por outra passavam por eles casas e moradores, na distância, tudo parecia muito pequeno; igual ao seu mundo, como teria sido até agora.

Os olhos querendo fechar, puxados pela força do sono de uma noite acordada. A lembrança dos últimos acontecimentos era um cabo resistente que tudo trazia na memória, passava como a realidade exterior do mundo amazônico, como num filme e lembrava o seu pai dizendo que seu relógio marcava duas da manhã, hora de partir, fechar a noite com chave de ouro.

Deixaram o sambódromo e a beleza da harmonia entre o som, os brincantes/passistas, a letra, as fantasias, os carros-alegóricos e todo mundo que se desfiava pela arena do samba. Mesmo no carro se distanciando o rufar dos tambores da bateria e o som da voz rouca do puxador do enredo de sua escola ainda os invadiu, penetrava nos ouvidos e nos poros.

No carro, ouviu seu pai dizer que já era hora; quase passada, tinha completado 16 anos; de seu filho se tornar homem de verdade, homem pra valer e dirigiu no rumo do centro da cidade, onde entraram num hotel e lá encontraram duas lindas jovens. Uma era para ele e disse que esperaria no hall de entrada, enquanto ele viveria seu momento de prazer e ser iniciado no mundo encantador das mulheres. As coisas não andaram bem como disse seu pai, porém, não deixou de ser bom.

Adormeceu e foi acordado por alguém que lhe perguntava se queria almoçar. Comeu e dormiu de novo. Acordou com o barulho das pessoas se arrumando para desembarcar. A lancha dobrou, deixou o Solimões e entrou no lago de Coari. Na bagunça da balsa/porto avistou seu tio e sua tia demonstravam uma alegria contagiante. Pensou, ser a vida se anunciando como nova, num mundo novo.

Sacudiu a cabeça, pensando espalhar e espantar as lembranças para longe e com o pé direito desembarcou na terra do gás e do petróleo!


Um comentário:

Anônimo disse...

O sonho é o momento ou um fato que nos leva a vários mundos, as vezes nem mesmo imaginado por nós. Sonhar pode ser um momento de alegrias e também de tristeza, mas não sonhar com dias melhores ou atos prazerosos as vezes nos deixa cheios de amarguras e tristezas. Portanto irmãos coarienses vamos lutar na realidade do nosso dia a dia para construirmos uma Coari melhor, capaz de nos causar orgulho e alegria, pois no atual momento só temos tido tristezas, decepções e amarguras. Um bom feriado prolongado a todos e quem puder e quiser que curta um canarval com muita responsabilidade e solidariedade. Um grande abraço! Que Deus nos ajude e nos abençoe com o seu Amor de Infinita Bondade!!!