Crônicas de um carnaval coariense
Segunda - Marcelo
"Nossa, nossa, assim você me mata. Ai se eu te pego, ai, ai se eu te pego. Delícia, assim você me mata. Ai se eu te pego. Ai, ai se eu te pego." Esses versos dessa marchinha de carnaval do novo século, estavam girando pela cabeça de Marcelo como um cd furado, tocando sempre a mesma faixa do disco. Ai se eu te pego... sentado na poupa da canoa, dirigindo seu rabeta, voltando da ilha do Ariá para Coari; sentia as lembranças tão fortes e frescas da noite anterior, como o frescor do vento do fim de tarde batendo em seu rosto.
As lembranças giravam acompanhando os versos da música e passavam pelo rosto de Justina, pelo de sua mãe, pelo do amigo de seu pai e dono da casa, o de sua esposa, o de Enrique, o de uma outra mulher que não chegou a saber o nome e o de Angêlica, que disputavam tanto seu olhar como o de Enrique. Foi uma noite de domingo inesquecível, incrível.
E tudo começou quando seu pai lhe pediu para depois da venda da feira, entregar uma bolsa na casa de um amigo e que ele deveria dormir por lá. A noite de sábado, foi triste; com o dono da casa dando total atenção ao seu sobrinho que tinha chegado de Manaus e dizia chorando que ele parecia com o filho que tinha morrido aos 17 anos num acidente de moto. Misturou bebidas, drogas e velocidade, a cabeça se espedaçou.
Domingo de manhã chegou de Tefé com muitas malas, Angêlica. Não entendia aquelas malas todas para uma viagem de carnaval, três, quatro dias. Sua bagagem foi colocada na mesma "sala" onde puseram sua bolsa. Domingo de sol, de carnaval, de muita comida, de gente entrando e saindo pela casa e a "sala" era uma espécie de quartel general do dono da casa.
Delícia, delícia... que noite. E foi assim a noite de domingo... ai, ai se eu te pego... Justina grudada em Enrique e com os olhos espichados para o seu lado. Angêlica, não sabia a quem devorar. E entre uma bebida e outra dançavam pelo pátio. O corpo jovem e a cabeça girando. Delícia, delícia!
Não sabia o que bebia, a cabeça pegava fogo, o coração acelerado. Adormeceu. Acordou com corpo quente de Justina pedindo licença e entrada no seu. Eram duas da manhã. Amanheceram com os corpos em estado, como se estivessem dentro de um vulcão!
Deixou Coari Quinze para as sete da manhã, foi na Ilha do Ariá buscar mais uma bolsa a pedido do amigo de seu pai. Agora, voltando, o barulho do rabeta, o vento em seu peito... delícia, delícia... Tinha acertado com Angêlica, essa noite iriam para o sambódromo. Ia sair de Periguete no bloco do Bocal Queimado. A vida já não tinha limites. Ai se eu te pego, ai, ai...
Um comentário:
poxa essa hitória ta emocionate Padre acho q agora encontrei um livro no seu blog. graça e paz!
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