quarta-feira, 31 de julho de 2013

Descaminhos


Em menos de 24 horas em Coari, ouvi coisas para digerir por mais de um um mês. Está sendo uma viagem cansativa e estressante; porém, de muito aprendizado; onde o mundo entrelaçado de palavras e ações demonstram uma realidade igual a dos romances do colombiano Gabriel Marques, de modo particular sua obra mais clássica "Cem anos de solidão".

Primeiro de um povo que parece vencido, rendido diante de administradores que vivem em função de si e de seus interesses, onde a esperança se distancia dos projetos e dos sonhos do dia-a-dia. Os meios de Comunicações de fora, tornam público os resultados dos indicadores sociais e mostram que o município de Coari, mesmo sendo o mair rico do interior do estado do Amazonas, seu povo vive em tal estado de pobreza igual ou pior de municípios que recebem por ano, o que a terra do gás e do petróleo recebe por mês.

Numa terra onde até tirar uma simples "Carteira de Identidade" se torna uma pesadelo e pode durar meses. Assim, mata-se um povo no cansaço e roubam o desejo mais profundo do ser humano, a felicidade.

Nas escutas, estou tentando entender com essa gente que insiste, teima em viver, continua a vida encontrando as razões da felicidade e ser feliz. Nas periferias existenciais  minha e dos outros, da alma e do corpo, segue-se no jogo do silêncio para tentar um dia, antes que chegue a morte, alguma vitória.

Em vez de expor a mão, a cara ou abrir os botões da camisa para mostrar o peito, se esconde e tudo. Vive-se então de mãos amarradas, boca silenciada e peito fechado. Vive-se num túmulo. Um povo morto!

Minha dúvida é saber onde mora a tristeza maior, no peito de quem recebe a bala ou no de quem aperta o gatilho... Encontrar outros caminhos ou ´descaminhar´ os que aí estão, é o desafio de nós coarienses.


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