quinta-feira, 1 de agosto de 2013

81 anos de um rico município pobre

 
O município de Coari chega aos seus 81 anos desse grande projeto colonial que começou no século XVI, onde tivemos que nos enquadrar nos moldes das etruturas européias e hoje a alienação continua, talvez mais que antes, visto que os povos que habitavam essas terras tinham mais consciência e amor pelo estilo de vida que viviam.
 
De lá para cá foram muitos os avanços, os retrocessos e as destruições no modo de vida de um povo que tem que calar ou cantar os parabéns embebidos pelas ferroadas da mosca azul ou pelas migalhas que caem das fartas mesas de quem teve ou tem oportunidade de estar do lado de quem tem a chave do cofre do Palácio 02 de Agosto.
 
Dos avanços, o mais significativo é a construção da estrutura de ensino na cidade de Coari. As escolas dispõem, em geral, de boas estruturas, tanto as do esino fundamental, passando pelo médio e as universidade. Todas ostentam belos prédios. Na área rural do município a realidade bem outras; pouquíssimas são as escolas que oferecem boas estruturas; a grande maioria funciona com o mínimo para uma boa educação. Para além das estruturas o conteúdo ainda é do estilo colônia, onde o material é o mesmo usado nos grandes centros do país, totalmente fora da realidade coariense.
 
Dos retrocessos, destaco a desestruturação de sua estrutura geradora de trabalho e renda, que era ligada aos produtos da floresta, especialmente banana (Coari já foi o maior plantador de bananas do país), peixe, juta, malva, cacau (o nosso cacau é de primeirissima qualidade, visto utilizar adubo orgânico) e castanha (sobre essa última, ainda temos os grandes castanhais da Amazônia; infelizmente ligados a meia dúzia de família que não consegue industrializar a castanha, que seria uma forma de gerar empregos no município). Hoje, além de quase nada exportarmos, ou melhor, importamos grande parte de verduras e frutas consumidas na cidade.
 
E nesses anos a destruição cultural foi a pior de tudo. Seja da vida dos milenares povos indígenas que aqui viveram e vivem; seja da cultura cabocla do bem viver e a última, talvez a pior, destruída pela forma de fazer politicagem, que destruiu o velho modo de vida das pessoas das cidades do interior do Amazonas, onde a boa vizinhança, a boa conversa, a solidariedade, a acolhida, a partilha. Hoje vivemos nos destruíndo com um único objetivo: meter a mão no dinheiro do gás e do petróleo.
 
A grande maioria das pessoas vive na pobreza e a boa parte da outra da minoria, vive na pobreza espiritual, marcado pelo ter sempre mais. O Cristo na praça segue como o da música dos Paralamas do Sucesso : "de braços abertos num cartão postal, com os punhos fechados pra vida real"; só que em Coari são os olhos fechados! 

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