sábado, 31 de agosto de 2013

Holliúdy coariense


O “Cine Holliúdy” com produção 100% cearense = direção, atores e fotografia. Feito para ser exibido primeiro no Nordeste, onde está conquistando o nordestino e agora nas telas de Manaus. Um filme que foge a lógica do domínio cultural e econômica do eixo sudeste e sul do Brasil.

O filme retrata com graça e encanto a realidade da morte dos cinemas das pequenas cidades do Brasil com o advento da televisão e sua chegada aos locais mais distantes do nosso país continental. No todo, o filme é um retrato das pequenas cidades do Brasil e a cultura brasileira da década de 70; onde tudo era mais brasileiro e feito por brasileiros para brasileiros. O cinema era mágico e parte importante da vida cultural de cidades perdidas pelo país afora.

Hoje só as grandes redes, em geral, grupos multinacionais sobrevivem a jogada mega-econômica que se transformou a sétima arte. Mais como entretenimento que como arte, os cinemas fazem parte das áreas de lazer e alimentação dos shoppings. Boas histórias deram lugar a qualidade de som e imagem, pancadaria e muito sangue.

A história é um show de retrospectivas que desenterrará em quem tem o DNA acima de 40 janeiros, lembranças que deixaram eternas marcas. As boas músicas com conteúdo e acordes simples que falavam de amor e saudades na vida de pessoas normais. O Brasil de políticos atrasados, porém, humanos que participavam da vida do dia a dia de suas cidades sem estarem escondidos em casa ou carros com películas escuras, sem guardas costa e que caminhavam nas ruas como as outras pessoas, seus eleitores.

A mim, lembra velhos tempos e belos dias da Coari dos cinemas. O primeiro filme que assisti que não lembro o nome, numa antiga sede do sindicato dos estivadores. Lembro-me de dois cavalos, um branco e outro preto que corriam numa paisagem de lindos campos, penhascos até a beira do mar e nada mais resta na memória. Isso pelos idos de 1976. 

Depois vieram os cinemas, o Alex e em seguida o Cine São Francisco. Fizeram parte importante da vida cultural da pacata e pequena Coari. Na época lembro dos comentários de Bruce Lee e Juliano Geema. Nós, criançadas da época, queríamos ser esses dois atores, fortes, machos, batiam, matavam. Eram Machos com todo machismo que o H era dito nos gestos e formas que eles se espressavam.

Tive sorte de viver esse tempo como criança e mais ainda de ter meu Tio Carlos no comando das projeções, tendo como auxiliar meu irmão Lima e mais ainda, o outro meu irmão, o Cliff, apaixonado pela arte da telona. O envolvimento desses meus parentes de primeiro grau, me deixava numa situação confortável e com grande possibilidades de assistir vez por outra um filme, sem ter como pagar, era uma grande sorte!

Veio a televisão, tal qual mostra o "Cine Holliúdy" e foi um tiro nos cinemas da terra do gás e do petróleo. Para quem viveu esse tempo, só restam saudades. Para as novas gerações esta é uma memória da nossa história escondida entre o asfalto e os tijolos das ruas da nova Coari, controlada/dominada por pessoas, em geral, de fora que preferem que a história de Coari fique escondida, até porque são tão desconhecedores dessa história, como os novos coarienses.

* Dedico esse post in memorian do meu querido e saudoso Tio Carlos - que contribuiu com seus serviços de projetor com o crescimento cultural de tantos coarienses, inclusive, o meu!


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