sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Caminhando sobre as águas


Quase todas as profissões da Amazônia, são mais que simples gestos, ações, são artes que representam a realidade, expressões marcadas pelo artista que deixa seu talento, seu suor e sangue tatuados no objeto trabalhado.

O trabalho do jovem calafetador de barco, aprendido ao longo de anos com a paciência de Jó e a repetição de infinitas vezes do mesmo gesto. Se faz necessário saber a grossura certa do material que cabe na abertura entre uma tábua e outra, depois o breu na temperatura e na quantidade que vai dar consistência na ligação da madeira, criando uma massa tão forte que seja capaz de aguentar a força das águas.

É um artesão o artista que faz essa arte, dar vida ao barco, untar os espaços vazios e dar formas reais, necessárias para fazer o milagre de andar sobre as águas.


Esse trabalho feito nos barcos que vão a "carreira" está necessitado de trabalhadores/artistas de uma arte cada vez mais escassa, calafetar, encher o vazio para torná-lo nevagável. O desfiar, enrolar, as vezes ensopar e colocar a estopa entre a madeira, e bater, socá-lo até ficar de uma forma que dê corpo ao todo.

Faltam escolas capazes de educar os amazônidas com ferramantes que possamos mover esse mundo. Até agora só a escola da vida, o aprendizado prático, na maioria das vezes ensinado de pai para filho tem dado condições para executar os ofícios tão necessários para o trazer o pão pelas próprias mãos de quem pode fazer algo prático e funcional num mercado de trabalho tão amplo. Barcos é o que não faltam nesse planeta aquático.

A educação de nossas escolas ensinam muito mais para realidades distante das nossas. Livros e planos escolares feitos em outras regiões do país. Fazemos o ensino fundamental, médio e superior, quase sempre "terminamos" os estudos e somos ignorantes do mundo amazônico, da nossa cultura.

Havia um tempo que éramos ignorantes do mundo das escolas, nem sabíamos de sua existência; porém tínhamos total conhecimento do nosso mundo caboclo e dele sabíamos viver, e viver bem, gozando de tudo de bom que nele existe. Vieram as escolas, navegamos por outro mundo que disse que o nosso era coisa de índio, coisa de gente do mato, de caboclos. Acabamos perdendo o que tínhamos para hoje nada termos.

Não que sou contra a "escola", sem ela não poderia eu escrever neste blog; mais creio que a educação ainda precisa fazer um caminho rumo a floresta para ensinar quem é daqui a construir uma estrutura de conhecimentos que seja capaz de gerar um capital intelectual que se transforme em qualidade de vida!

Será que vamos conseguir?

Um comentário:

Unknown disse...

o conhecimento popular, é e deve ser respeitado, é o caboclo que conhece os segredos da mata, das plantas medicinais, sabe da lei do reflexo na água, pois quando vai flechar o peixe ele sabe que tem que ter um desconto se não jamais vai acertar o alvo, isso ele aprendeu sem estudar a física, o conhecimento de armação de embarcações, nenhum engenheiro faz sem os estudos, os conhecimentos náulticos, ciclo das águas a força das fases lua etc. nenhum Drº consegue superá-los, foi a vida, o contado desde menino que ensinou o ribeirinho a ser o DOUTOR dos segredos da natureza e do conhecimento popular, uma pena que muitos estão deixando que tais conhecimentos se percam. É hora de nao deixarmos isso acontecer faça a suas parte.